quarta-feira, 21 de maio de 2014

Era uma vez... um cão chamado Wally!

Era uma vez um cão chamado Wally!!!
O Wally nasceu em 1998, por altura da Expo 98! Meu Deus, a Expo 98, a loucura! Chegou a nossa casa pelas mãos do meu Pai, num dia quente de Junho (nem um mês devia ter, a data de registo ficou 26 de maio)! Cheguei a casa ao fim do dia e parece que ainda estou a ouvir a voz da minha Mãe: "Vai lá ver o que o teu Pai trouxe para casa..." - com um ar de quem ia ter um ataque cardíaco nos próximos minutos!! - "Oi?! O que é que o Pai trouxe para casa?!" - e lá fui eu ao terraço onde vejo uma caixa de papelão mínima, onde estava um pequeno ser vivo a mexer-se devagarinho!! "Um cão??!!! Tão fofinho!!!! Oh, tão pequenino, quero pegar!! Oi?? Mas está cheio de coisinhas... pulgas...?! carraças?!... que é que é isto???"... Pânico!! Eu não fazia a mínima ideia de como lidar com um cão!!!

O Wally fazia parte de uma ninhada que nasceu mesmo no parque de estacionamento do trabalho do meu Pai... A mãe do Wally permanecia por lá, há já algum tempo e foi conquistando o carinho de todos os trabalhadores! Quando teve filhotes, o meu Pai e alguns dos seus colegas, levaram os cachorrinhos para casa, para que não ficassem à mercê dos carros e todos os perigos da rua!
A verdade é que ter um cão, era para mim toda uma experiência nova! Nunca tinha tido nenhum e nem nunca tinha pensado muito nisso! Gostava de cães, nunca os trataria mal, mas ter um em casa não me passava pela cabeça! Nem a mim, nem à minha Mãe, que foi a pessoa mais difícil de convencer a ficarmos com o Wally! E mal sabíamos nós as peripécias que ele nos ia trazer!!!
Primeiro, o meu Pai dizia: "Ah, trouxe o cãozinho só para não ficar exposto aos perigos da rua, mas é para dar a alguém, arranjar um dono...! - Eu pensei logo: "O quê??? Ficamos com ele!!!!" - a minha Mãe: "O quê?? Nem pensar!!" - até que chegou a casa o meu irmão com minha cunhada!! Escusado será dizer que também era da opinião de ficarmos com ele!!! Só faltava convencer a minha mãe e pronto, ficávamos com ele!! "Não, ele não vai crescer muito... Nós tratamos dele... é tão fofinho... tão querido.... oh, vá lá...!!" - "Pronto, está bem..."!!! Yupiiii!!! Alegria!!!! "Nome, como se vai chamar?" - depois de todos termos várias ideias parvas, a minha cunhada (a sua madrinha!) teve a ideia brilhante: "Wally!" Onde está o Wally?!! Uma pergunta que fiz milhentas vezes, desde 1998!!

E pronto, ficámos mesmo com ele! Sem a ajuda da minha querida cunhada, teria sido mais difícil, pois não saberíamos como tratar dele! O Wally ainda precisava de ser alimentado com bebirão! Era tão mas tão pequenino!! E tão, mas tão engraçado!! Estava a ser uma experiência fascinante!! O cão maluco e endiabrado!! Quando era pequenino, uma vez, caiu do sofá!! Acho que foi desde aí que ficou o cão maluco!!
Depois foi crescendo e crescendo e crescendo!! A minha Mãe questionava: "Mas... não diziam que ele ficava pequenino?" - "Pois...!". Foi crescendo e fazendo cada vez mais disparates!!

Uma vez, os meus Pais chegaram da aldeia, cheios de coisas boas, queijo da serra, broa, etc, etc...Quando eles foram para lá, o Wally ainda não chegava à mesa da cozinha, mas quando voltaram... Chegava!! Só que ninguém se lembrou disso e ninguém esperava tal coisa!! Pois que o Wally comeu um queijo da serra, inteirinho, só para ele!!! E quando abriu uma caixa de graxa e se esfregou nela, mudando literalmente a cor do focinho e arredores??!! E quando comeu uma nota de cinco mil escudos (sim, ainda é do tempo dos escudos)!! Cinco contos!!! Que tanta falta faziam!!


O Wally fez tantos disparates, que às vezes é difícil acreditar!! Roeu sapatos, chinelos, óculos, roupa, sofás, rodapés, etc, etc, etc.... Eu sei que há-de haver muita gente que está  chocada neste momento!! Pois é, no momento só apetecia dar-lhe uma tareia, espancá-lo, expulsá-lo de casa!!! Mas rapidamente passava essa vontade!! Levou muitos ralhetes, muitas palmadas, sempre foi um cão muito desobediente e difícil de controlar!! Verdade seja dita que, às vezes, eram uns a tentar educar e outros a deseducar...  Mas quem tem ou teve cães, compreende o que estou a dizer, certamente!! Ele fez tantos, mas tantos disparates, nem imaginam!!! Mas pronto, no meio desses disparates todos, conseguia ser o cão mais meiguinho do mundo! Um grande amigalhaço!! E já fazia parte da família! Era impensável ficarmos sem ele!! Mesmo para a minha Mãe, o Wally já fazia parte da família!! Mesmo depois de este lhe ter rasgado uma orelha (o horror!!!), arrancando um brinco com uma pata!!! Acidentes acontecem, na hora de demonstrar a sua alegria com a dona, a euforia foi tanta que correu mal!!!

Mas mesmo com todos estes disparates, o Wally foi permanecendo na nossa vida, nos bons e nos maus momentos, sempre pressentindo o que nós estávamos a sentir, ficando triste quando estávamos tristes e alegre, diria mesmo, eufórico, quando estávamos alegres!! Sempre foi um cão com muita genica e muito irrequieto!!! E ladrava, o que ele ladrava, ladrava muito, mesmo muito!!! Eu digo ladrava, porque agora, quase a fazer 16 anos, já pouco ou nada ladra, já não está para se chatear!! E a genica já não é a mesma, embora continue a ser irrequieto, não tanto (felizmente!)!!


É isso mesmo, o Wally já faz 16 anos... está um idoso!! Têm sido 16 anos cheios de alegrias, tristezas, disparates, emoções! O Wally sempre foi um cão saudável, embora nos tenha dado algumas preocupações, dada a sua euforia, por vezes conseguia magoar-se! Mas sempre foi um valentão!!
O Wally quando ia para a aldeia gostava de se sentir livre, por mais que eu não gostasse, havia sempre quem lhe abrisse a porta e lá ia ele!! Enquanto foi novo, corria atrás de gatos, fugia de outros, fugia de vassouradas de pessoas que não gostavam dele, pois era capaz de entrar em qualquer casa que tivesse a porta aberta, corria, corria, corria e nada nem ninguém o apanhava!! Só que a idade traz fragilidades e foi atropelado, mas foi um valentão!! Talvez tenha sido nesse momento que pensei que o ia perder...

Estávamos nós de férias, em pleno Agosto, quando o meu irmão me vai acordar (tinha-me deitado tarde, muito tarde!), dizendo: "Acorda, despacha-te, o Wally foi atropelado, temos que ir com ele a um veterinário!" - "O quê??? Como?? Veterinário?? Aqui?? Onde??" Pânico!!! Quando cheguei ao pé dele, nem queria acreditar... muito sangue, deitado, quase imóvel! Não podia ser, não era o Wally!! E lá fomos com ele, pela estrada fora, à procura de um veterinário! Não estávamos num sítio onde conhecêssemos algum, nunca tinha sido preciso... Depois de telefonemas a amigos, lá o levámos para Coimbra, onde teve que ficar internado e o prognóstico não era bom... deixá-lo lá foi horrível, a sensação de que o ia perder instalava-se em mim, em nós... acho que todos nós tivemos esse pensamento... Mas nunca desistimos dele e ele também nunca desistiu!! Ficou lá 3 longos dias!!
Quando nos disseram que o poderíamos ir buscar, pois ali nada mais haveria a fazer, tinha a anca deslocada e teria que ser operado, mas não nesse momento! As feridas estavam a sarar e agora a recuperação seria feita em casa! Mas mal andava, estava muito triste, não queria comer... a ideia que nos deram foi de que chegaríamos lá e ele ia estar deitado, triste, sem reacção... Fomos buscá-lo! Eu estava com medo de entrar, medo do que ia ver... assim que entrámos, o Wally levanta-se, com muita dificuldade e foi ter com o meu Pai, abanando freneticamente o rabo... a primeira pessoa que ele conheceu quando entrou na nossa vida, o seu grande amigo!! Confesso que fiquei com uma pontinha de ciume!! Hehe!! "Oi?? Então, mas ele mal andava?" - sim, estava muito debilitado, mas sentimos que a alegria de nos ver fez com que tivesse todas as forças e mais algumas!!! E lá o levámos para casa, carregado de medicamentos, indicações e conselhos para que tudo corresse bem!! E correu!! O Wally recuperou bem, foi um verdadeiro guerreiro, surpreendeu toda a gente com a sua recuperação! E não foi operado, era um risco muito grande, dada a idade avançada!! Mas está bem, ficou um bocadinho coxo, mas bem!! Agora são as maleitas que fazem parte da idade, a lei da vida...

Mas foi a partir desse momento que fui tendo a consciência de que um dia o vou perder... A ideia de que o fim está próximo está cada vez mais presente em mim... "Não, não vou começar a chorar!! Ou talvez vá..." - Mas estaremos juntos até esse fim chegar, mesmo mais debilitado, nunca o vou abandonar, ou melhor, mais debilitado é que nunca o abandonaria, ou melhor ainda, NUNCA o abandonaria em momento algum!! Estará sempre comigo, vamos dar os nossos passeios, mais devagar, mas vamos... com muita paciência e carinho, estarei com ele até ao fim... porque sei que ele faria o mesmo por mim, nunca me abandonaria!


Haveria tanto mais para dizer, tantas histórias para contar do nosso amigo Wally, mas este texto já se alongou muito!! Talvez um dia escreva um livro sobre as peripécias do Wally!!
Muita gente pode não entender, mas sei que muitos outros entenderão! O Wally faz parte da minha vida, da minha família, esteve comigo em momentos marcantes, ouviu ralhetes, mas também ouviu desabafos quando eu estava menos bem, ou festejou comigo quando havia algo a festejar!! Ensinou-me que não chega só gostar de cães, que a experiência de ter um cão é muito mais gratificante! E hoje apeteceu-me escrever sobre ele!! Este texto não é uma despedida, pois acho que ainda vai estar comigo muito tempo! É apenas uma homenagem a este grande guerreiro e o meu mais fiel amigo!! Essa é a verdade!!
Verdades de um Caracol!!



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